Tecnologia abre extenso leque de aplicações no campo e tende a crescer significativamente nos próximos anos
Que “o agro é tech”, a gente já sabe faz tempo. Não é de hoje que as modernas tecnologias vêm sendo empregadas na agricultura de alta produtividade, em suas diferentes etapas, fazendo o produtor rural reduzir despesas, aumentar a eficiência do empreendimento e, consequentemente, otimizar sua lucratividade. O exemplo mais recente dessa integração do campo com a tecnologia é a cada vez mais frequente utilização dos drones nas diferentes fases do ciclo produtivo.
Hoje, a utilização desse recurso começa ainda antes do plantio, no mapeamento da área a ser plantada, com a precisão que só a visão aérea permite — graças ao auxílio de câmeras e softwares específicos. Depois, incluem a aplicação de insumos, o monitoramento (de cada etapa) das lavouras, a previsão do tempo e a promoção da sustentabilidade — afinal, os drones podem atuar também na prevenção de incêndios e na preservação ambiental. No caso da pecuária, adiciona-se aí também a possibilidade de guia de boiadas.
De fato, os drones proporcionam maior precisão na identificação de pragas, deficiências nutricionais, falhas de plantio e registro de espécies invasoras. Também melhoram a eficiência da aplicação de fertilizantes foliares e de controle de pragas e doenças nas lavouras. Enquanto um funcionário munido de pulverizador costal consegue abranger no máximo 0,1 hectare por hora, o drone cobre até 13 hectares no mesmo período. Vale lembrar, ainda, que os drones pulverizadores agrícolas também conseguem superar os terrenos acidentados, obstáculos ainda comuns para os equipamentos terrestres.
Projeção do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) apontam que o País tinha, até o ano passado, pouco mais de 2 mil drones agrícolas (entre mais de 80 mil de uso geral) cadastrados no Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant), registro mantido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A perspectiva é que esse número cresça exponencialmente até 2026, dando um salto para 93 mil Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant).
REGULAMENTAÇÃO
Em razão disso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) regulamentou, em setembro de 2021, o uso de drones nas atividades agropecuárias, por meio da Portaria nº 298, que estabelece regras para operação de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP).
A minuta prevê normas para serem aplicadas em aeronaves das classes 2 (de mais de 25 quilos até 150 quilos de peso total) e 3 (até 25 quilos de peso total), destinadas à aplicação de defensivos, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes.
A portaria obriga o registro dos operadores que utilizem as ARP na agricultura, englobando corpo técnico qualificado, com um responsável que tenha curso de piloto agrícola remoto e um técnico para coordenar as atividades. Também estipula regras para dar confiança à operação das aeronaves, como plano de destinação de resíduos, o registro das entidades de ensino, os requisitos de garantia operacional, envolvendo a segurança aos operadores, bem como as distâncias mínimas a serem respeitadas nas aplicações.
O uso de drones vem agregar mais valor ao processo de mecanização agrícola automatizada que vive a agricultura brasileira como um todo. Além disso, a tecnologia — que tende a ter seu custo diminuído com a produção em escala — pode ser empregada por todos os tipos de produtores rurais, em razão da sua versatilidade, uma vez que o equipamento pode ser ajustado para desempenhar diferentes atividades no decorrer do ciclo produtivo.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg), Vilson Luiz da Silva, afirma que novas tecnologias que favoreçam a produtividade e que insiram os trabalhadores na cadeia produtiva são bem-vindas. No entanto, ele lembra que esses avanços devem sempre considerar a mão de obra humana. “O trabalhador no campo não pode ser ignorado, ou simplesmente substituído, sem que lhe ofereçam alternativas”, diz.
EXEMPLO CHINÊS
O exemplo para a adesão em massa a essa novidade pode vir da China, que atingiu a marca de 100 mil drones agrícolas para cobrir os 53,3 milhões de hectares de seu território dedicados à agricultura. Vale lembrar que, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a agricultura brasileira utiliza quase 66 milhões de hectares. Claro que o fenômeno chinês é muito facilitado pelo fato de o país deter imenso parque tecnológico instalado, abrigando as maiores fabricantes do setor.
Some-se a isso fatores como a mudança geracional dos produtores e os fortes subsídios governamentais realizados de forma estratégica. Mas, diferentemente do Brasil, a agricultura na China tinha baixo nível de mecanização e a chegada das aeronaves fez o agronegócio daquele país dar um salto técnico.
Assim à exemplo do sucesso chinês é esperado que, diante dessas muitas possibilidades, o uso de drones agrícolas reduza bastante o custo operacional, possibilite a gestão de dados e informações de todo tipo de lavoura, garantindo rápidas intervenções e tomadas de decisão mais certeiras, agregando produtividade e lucratividade ao agronegócio brasileiro.
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