Operação deve ser feita no momento certo e de maneira equilibrada para que se obtenha o incremento da qualidade


A aplicação de boro no quebra-lombo da cultura de cana-de-açúcar é uma modalidade de adubação ainda pouco difundida, mas muito importante para a obtenção de ganhos produtivos. Tanto que essa é a recomendação do especialista Rafael Otto, professor titular da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), na edição 198 da revista Canavieiros. Segundo ele, a aplicação de um a dois quilos por hectare no quebra-lombo garante “resultados mais consistentes e altos de produtividade” do que em outras modalidades, como no fundo do sulco ou na cobrição do tolete, pois a cana no estágio do quebra-lombo está estabelecida e o aproveitamento do boro é maior.

Primeiro é importante ter em mente que o quebra-lombo é o nome dado à operação realizada após o perfilhamento da cana-de-açúcar, quando se faz o nivelamento do terreno, preparando-o para a colheita mecanizada. Essa uniformização do solo visa, inicialmente, facilitar o trabalho das colhedoras e, consequentemente, melhorar os resultados do corte de base, reduzindo a perda de matéria-prima e a quantidade de impurezas levadas para a indústria. Chama-se “quebra-lombo” porque, efetivamente, quebra o “lombo”, como são chamadas as pequenas elevações de terra formada nas entrelinhas do plantio. É uma operação que costuma ser realizada após a formação do primeiro colmo da planta, de 70 a 90 dias depois do plantio.

Além de ser uma prática de custo acessível, com o passar do tempo os fabricantes de implementos agrícolas foram aperfeiçoando seus equipamentos de forma a permitir a incorporação de outras práticas ao quebra-lombo, tornando-o ainda mais vantajoso. É o caso dos aplicadores de herbicidas e adubadores, que se juntam aos bicos riscadores, discos e niveladores do equipamento básico para permitir aplicação de nutrientes e agregar mais valor ao processo. É aí que entra o boro (B), um dos principais micronutrientes exigidos pela planta, cuja aplicação pode gerar um efeito muito positivo na produtividade e qualidade da cana-de-açúcar.

 

A importância do boro

Estudos apontam que a adubação com boro proporciona aumento do perfilhamento das touceiras e da quantidade de açúcares totais recuperáveis (ATR), que são extraídos durante a produção de etanol e açúcar — os principais objetivos da cultura. O boro tem grande participação na formação da parede celular e na estrutura dos vasos condutores, “sendo capaz de formar um polissacarídeo complexo péctico conhecido como complexo borato ramnogalacturonano II (RG-II)”, diz Estevão Vicari  Mellis e outros pesquisadores no artigo “Effect of Micronutrients Soil Supplementation on Sugarcane in Different Production Environments: Cane Plant Cycle” (“Efeito da Suplementação de Micronutrientes do Solo na Cana-de-Açúcar em Diferentes Ambientes de Produção: Ciclo da Cana-de-açúcar”), no qual   analisaram conjuntamente canaviais de 11 locais do Estado de São Paulo, o maior produtor do País.

Pesquisas indicam, ainda, que o boro regula a fluidez da membrana, garantindo o bom funcionamento das proteínas transportadoras de moléculas e receptoras de sinais; inibem a formação de calose (um polissacarídeo semelhante à celulose que pode obstruir o floema, principal via de transporte da sacarose nas plantas); e facilitar o transporte de açúcares a longas distâncias, pela formação de um complexo açúcar-borato transportado através das membranas celulares – função que, de quebra, é capaz de minimizar o ataque de pragas e doenças. Ou seja: o papel do boro no transporte de açúcares e na inibição da formação da calose proporciona o aumento do ATR da cana-de-açúcar e, assim, tem efeito positivo no acúmulo de sacarose nos colmos.

 

Como aplicar o boro no canavial?

Em canaviais de alta produtividade, é importante traçar estratégias de manejo que garantam o fornecimento de B durante todo o ciclo produtivo. A adubação foliar não vai suprir toda a demanda do boro no crescimento do sistema radicular – dada a sua importância na formação da parede celular. “Isso é um indicativo de que o B deve ser fornecido via solo no cultivo da cana-de-açúcar, com complementações foliares pensando na maturação da planta”, explica o professor Otto.

Em seu artigo, o professor revela que estudos iniciais com aplicação de boro via solo foram realizados com fontes solúveis (como o ácido bórico) diretamente no sulco de plantio da cana-de-açúcar. “Infelizmente estes estudos levaram a reduções de produtividade, que foram associadas à toxidez por B devido à alta solubilidade da fonte utilizada e à sua aplicação próxima dos toletes e das raízes formadas no início do ciclo. Portanto, não recomendamos aplicação de doses de B superiores a 1 kg por hectare no sulco de plantio, devido aos riscos de toxidez pelo elemento boro e redução da produtividade”, afirma.

Mais tarde, uma rede de ensaios conduzidos por pesquisadores do IAC, que culminaram com a atualização das recomendações de aplicação de micronutrientes em cana-de-açúcar do Boletim 100 (Cantarella et al., 2022), demonstrou que a aplicação de boro em cobertura, na operação do quebra-lombo, seria o momento mais adequado para fornecimento deste micronutriente para a cana-de-açúcar, com ganhos consistentes de produtividade. “Estudos internos da nossa equipe, ainda não publicados, identificaram ganhos de 13 toneladas por hectare de colmos na média de diversas fontes de B com a dose de 2,5 kg por hectare aplicado na operação do quebra-lombo. A aplicação desta mesma dose em soqueira de cana-de-açúcar (aplicação superficial na linha) resultou em ganhos de 16 toneladas por hectare na média das fontes”, prossegue o professor, em seu artigo. “Resultados como esses demonstram a importância de um bom manejo com boro em solos deficientes deste nutriente”, conclui.

No caso do boro, existe um limiar muito tênue entre os teores ideais e aqueles que podem causar sintomas de toxicidade para as plantas. Fertilizantes muito solúveis em água (como o ácido bórico), podem provocar, a médio e longo prazo, um efeito oposto e levar as plantas a expressarem sintomas de deficiência de boro na cana. É o caso de folhas imaturas enrugadas e quebradiças; lesões em forma de “sacos de água” entre as nervuras; manchas amarelas e estrias nas folhas mais jovens; redução do comprimento e da superfície das raízes; aumento da incidência de doenças; e morte do meristema apical. Assim, o manejo eficiente do boro na cana deve sempre incluir a escolha criteriosa dos fertilizantes.

“A MicroSolo, linha de microgranulados da Multitécnica, disponibiliza ao mercado produtos fertilizantes granulados, em fórmulas padrão ou específicas, agregando os mais nobres nutrientes em um único grânulo”, afirma Vivyan Justi, desenvolvedora de mercado da Multitécnica para o Estado de São Paulo. Ela cita o exemplo do Megabor, produto da linha MicroSolo que contém em sua formulação 7% de boro, além de magnésio (4%) e enxofre (3%), fornecendo, em um único grânulo, esses três nutrientes fundamentais para a cana-de-açúcar, indicado para a aplicação durante a operação do quebra-lombo. “É ideal para quem busca alta performance da lavoura”, atesta Vivyan.

 


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