A pandemia do coronavírus trouxe consigo uma série de contratempos e transtornos para todas as áreas da atividade econômica mundial, mas, como crises e oportunidades quase sempre caminham juntas, mostrou-se também um momento propício para uma série de adaptações e inovações que vieram agregar mais qualidade e eficiência aos processos produtivos. No agronegócio, não é diferente – aliás, o setor mostrou-se particularmente eficiente para encarar o difícil ano de 2020.
Claro que nem tudo foram mil maravilhas. Todos os setores do agro que não envolvem alimentos sofreram perdas, de uma maneira ou outra, mas, com certeza, o mais atingido pela crise do coronavírus foi o da produção de flores. Com a ausência de festas, casamentos, bailes, etc., a demanda por estes produtos caiu demasiadamente desde o início da pandemia.
O agronegócio, porém, vem superando com maestria as limitações e dificuldades impostas pela pandemia do coronavírus e o isolamento social. Houve até aumento da demanda, não só por produtos básicos, como grãos e carne, mas também da agroindústria, como é o caso do vinho. Em plena quarentena, a bebida registrou crescimento de vendas internas e de exportações, bem como aumento de consumo per capita (2,81 litros por habitante maior de 18 anos no segundo trimestre de 2020, ou seja, aumento de 72% quando comparado ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Ideal Consulting).
Por causa da demanda aquecida do setor, aliada à pandemia, houve falta generalizada de matérias primas para as indústrias do agro, como papelão, plástico, peças, etc. A indústria precisou se reinventar para tentar atender aos pedidos e foi obrigada a estudar e desenvolver materiais alternativos aos convencionais.
No agronegócio, cadeias e segmentos atuam conjuntamente, porém de maneiras distintas, “antes” e “depois da porteira”, como se diz no jargão do setor. E, em cada uma dessas etapas, foi necessário criatividade para enfrentar as barreiras impostas pelo coronavírus, uma vez que a pandemia afeta o agronegócio tanto na oferta quanto demanda, bem como nos custos e receitas. Algumas dessas inovações, principalmente as tecnológicas, eram consideradas inevitáveis e, diante do coronavírus, foram apenas antecipadas.
Áreas de impacto
Especialistas apontam que quatro pontos principais deverão nortear a implantação dessas inovações: sustentabilidade, tecnologia, saúde pública e marketing. O primeiro se deve à crescente demanda por produtos com esse viés por parte de toda a sociedade. O segundo porque o surgimento de cada vez mais aplicativos e softwares, desenvolvidos por startups especializadas, tem apresentado resultados comprovados no campo, onde os jovens sucedem seus antepassados de maneira natural.
A saúde pública está intrinsicamente ligada não só às questões da pandemia em si, mas também à crescente preocupação dos consumidores finais com a origem dos alimentos e o bem-estar animal. Aliás, o Brasil pode liderar uma discussão global sobre a revisão dos sistemas vigentes de vigilância e mecanismos de controle sanitário, o que reduziria os riscos do surgimento de futuras pandemias.
E, finalmente, os players do agronegócio (produtores, cooperativas, empresas, etc.) devem aumentar seus investimentos em marketing e na exposição em mídias especializadas por meio de ações interativas, eventos e conexões digitais. Afinal, neste momento, comunicação é fundamental, tanto interna quanto externa.
Tecnologia, o grande diferencial
Estudar as tendências dos mercados nacional e internacional é essencial para um bom planejamento agrícola tanto para o momento atual de incertezas quanto para um cenário pós-pandemia. Nesse sentido, a tecnologia propicia técnicas e manejos que podem se tornar importantes ferramentas num cenário de recuperação rápida para o agronegócio.
As novas tecnologias permitem aumento da produtividade e redução dos custos de produção e podem até mesmo preparar os produtores rurais para enfrentar futuras crises sanitárias e econômicas internacionais. Um exemplo é o uso de sistemas de análise e ciência de dados que permite visualizar em tempo real as informações sobre as safras e os consequentes impactos sobre cada oferta. Isso possibilita estudar qual é a melhor estratégia de acordo com o comportamento do mercado.
O fato é que a pandemia virou o motor de aceleração de todo o processo de transformação digital da sociedade – vide as fortes mudanças ocorridas no varejo. Mas o agronegócio também se insere nesse cenário. Estudo da Mckinsey & Company aponta que 71% dos agricultores usam canais digitais diariamente para questões relacionadas ao campo e 33% do total de agricultores estão dispostos a comprar sementes, fertilizantes e defensivos on-line. Levantamentos da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) indicam que o setor teve uma alta de mais de 30% das vendas on-line no primeiro mês de quarentena e a tendência, é seguir nessa curva de expansão.
De fato, a tecnologia apresenta-se como grande aliada no cenário de recuperação econômica vislumbrado para o pós-pandemia. No evento on-line Summit Agro 2020, realizado no final de novembro, por exemplo, foram apresentados diversos cases que mostram a ampla atuação e a sinergia das tecnologias com a agricultura. Desta forma, o agro se viu impelido a assumir seu papel na revolução digital que impacta todas as áreas de atividade no que diz respeito ao e-commerce e a continuar liderando a economia do país.
Todos já ouvimos a velha expressão “se a vida lhe der um limão, faça uma limonada”. Pois, com o advento da pandemia do coronavírus, essa manjada pérola da sabedoria popular nunca se fez tão atual para o setor produtivo. Afinal, trata-se de uma filosofia positivista que propõe a superação das adversidades pelo uso da criatividade – pois incentiva a utilização dos obstáculos encontrados pelo caminho como impulso para a sua superação.
Uma máxima que remete a outra, esta atribuída ao filósofo grego Platão, de que “a necessidade é a mãe da invenção”. Enfim, um convite à reinvenção de si mesmo, exercício no qual tantas vezes, ao longo da história, o agronegócio se mostrou competente em suas muitas e amplas possibilidades. Afinal, como dizemos aqui na Multitécnica, “o agro é multi”.
Grupo Multitécnica