Ainda antes que a eleição do democrata Joe Biden se confirmasse na presidência dos Estados Unidos, uma incerteza pairava na mente dos empresários brasileiros, notadamente os ligados ao agronegócio: como ficariam as relações políticas e econômicas entre o Brasil e o seu segundo maior parceiro comercial, os Estados Unidos? A dúvida, que se renova de maneira natural a cada nova eleição num e noutro país, dessa vez se acentuou demasiadamente em razão da declarada adesão do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, às controversas teses defendidas pelo ex-presidente Donald Trump.
Pois, para alguns especialistas, não há muito – em tese – com o que se preocupar. “Tem muito mais pontos que são oportunidades do que ameaças”, afirmou o professor de agronegócio global Marcos Jank, em entrevista ao canal Terraviva do YouTube. Ele referia-se às primeiras e imediatas ações do governo Biden, que basicamente recolocaram os Estados Unidos de volta na concertação internacional: retorno à Organização Mundial da Saúde (OMS), ao Acordo de Paris sobre o Clima e, principalmente – no que tange ao Brasil – à Organização Mundial do Comércio (OMC). “É lógico que o Brasil precisa cumprir sua lição de casa. Tem de fazer a regularização ambiental e fundiária, no sentido de controlar o desmatamento, que é o nosso problema, mas vejo uma agenda positiva na questão de fontes renováveis de energia, na taxação sobre emissão de carbono, toda nossa agenda de biocombustíveis e economia verde”, diz o especialista.
Na questão do clima, especificamente, Jank salienta que agora EUA, Europa e China vão estar unidos no tratamento da questão. “Vai haver muita aproximação entre eles. Acho que o Brasil tem de participar desse jogo de maneira proativa, vendo oportunidades que podem representar para nossa agricultura tropical”, enfatiza. “A ministra Tereza Cristina (da Agricultura), por exemplo, está preocupada em avançar nessas regularizações e construir uma agenda de oportunidades para o agronegócio brasileiro lá fora.”
Para ele, o fato de o ex-senador e ex-secretário de Estado John Kerry ter sido alçado ao status de representante do governo americano para assuntos sobre o clima, muda a conjuntura e coloca o relacionamento entre outros países em outro patamar. “A gente (o Brasil) tem um papel muito importante na segurança alimentar do planeta. Podemos trabalhar juntos, por exemplo, o tema do reforço do multilateralismo, buscando regras que permitam acesso a mercados. Podemos trabalhar juntos na inovação e pesquisa de bioenergia. Existem várias agendas positivas que podem ser construídas tendo como mote central a questão climática”, afirma.
O governo americano já manifestou a intenção de investir US$ 2 trilhões em projetos de energia renovável, um tema que interessa sobremaneira ao Brasil. “Energia é o tema mais importante quando se fala de clima. 73% das emissões globais de gases que causam o efeito estufa estão ligadas ao tema de energia e de transportes. O assunto é muito mais importante do que o uso da terra e o desmatamento, que juntos representam menos de 18% das emissões”, lembra Marcos Jank. “Energia renovável (solar, eólica, biomassa, etc.), tudo isso colocado junto é uma grande oportunidade. Temos uma matriz energética bastante diversificada, que chega a ser mais de 40% renovável”, elenca dentre as vantagens competitivas do Brasil
Em síntese, Marcos Jank analisa: “Vejo Biden com muito bons olhos, montou um time muito experiente e profissional. Vamos ver o que acontece na OMC com os temas de meio-ambiente e agricultura. Isso pode realmente ter grande relevância. Vamos precisar mudar algumas posturas aqui dentro, fazer a lição de casa. Se fizermos isso, teremos grandes oportunidades nesse governo.”
E os fertilizantes?
Quando se fala do comércio internacional de produtos do campo, há uma preocupação específica do produtor brasileiro com relação aos fertilizantes, causada pela grande dependência do país na importação desses insumos. O presidente da Aprosoja/MS e vice-presidente regional da Aprosoja Brasil, André Figueiredo Dobashi, lembra que há alguns pontos importantes no tocante ao Acordo de Paris. “Para um país essencialmente Agro, diminuir as emissões (de gases) e reduzir o aquecimento global depende bastante do sequestro de carbono por parte das culturas. E, para tanto, ter um bom manejo de fertilizantes é um ponto crucial”, afirma.
Segundo Dobashi, como o fósforo é o principal nutriente consumido no País (em razão de sua deficiência natural nos solos brasileiros), surge um desafio importante de aumentar o teor deste nutriente no solo, promovendo assim o desenvolvimento radicular e, consequentemente, o sequestro de carbono pelas plantas. “Somos bastante competentes quanto à utilização do fertilizante fosfatado, mas temos uma deficiência na produção desse insumo no País”, alerta, lembrando que praticamente todo o produto utilizado aqui é importado.
“Temos fontes de fósforo altamente concentradas, acima de 50% de P2O5, que permitem reduzir de sobremaneira a quantidade de fertilizantes empregada por hectare. Entretanto, temos ainda dificuldade para controlar a taxa aplicada, em função da disparidade da granulometria do fertilizante ou excesso de pó”, afirma. “Por outro lado, o Brasil possui as mais avançadas tecnologias de produção e ampla capacidade de adaptação aos diversos sistemas de produção possíveis no País. Isso coloca o Brasil em um patamar de produção de destaque mundial”, diz, “Temos tecnologia para produzir com balanço de carbono negativo, sequestrando muito mais que emitindo”, acrescenta.
Dobashi salienta, no entanto, que o mercado de fertilizantes deve buscar a independência de mercados externos, assim como a melhoria na qualidade da granulometria ou mesmo de fontes líquidas, além de tecnologias para melhorar o controle de aplicação, de forma a aumentar a racionalização do uso. O engenheiro agrônomo lembra que o País já conta com sistemas de integração entre lavoura e pecuária capazes de produzir carne de altíssima qualidade com zero emissões — aliada à produção de grãos que, além de zerar emissões, ainda é capaz de sequestrar carbono suficiente para promover um mercado de crédito de carbono efetivo. “O Brasil possui condições de manejo, tecnologia e ambiente muito favoráveis para cumprir sua meta de redução das emissões, sem desmatamento, incrementando a produção agropecuária de maneira sustentável, como em poucos países do mundo”, conclui.
Outro aspecto importante é que os exportadores brasileiros poderão ter de comprovar a qualidade de seus produtos no que diz respeito ao meio ambiente e à saúde pública e, nesse cenário, as certificações são uma forma de garantir isso. Nesse cenário, os clientes Multitécnica largam na frente, pois utilizam insumos dotados das certificações ISO 9001-2015 e FAMI-QS, que atendem a rígidos critérios estabelecidos em países da América Latina e do Norte, Ásia e Europa.
Grupo Multitécnica | Dpto. de Comunicação e Marketing