A reboque da epidemia do Coronavírus, que se espalhou por todos os continentes, o ano de 2020 foi dos mais difíceis e complexos da história para a economia mundial, mas, entre todos os setores de atividades, o agronegócio se destacou por ter enfrentado com solidez as muitas dificuldades geradas, tendo sido pouco afetado por elas. No caso do Brasil, é possível afirmar até que o segmento teve um ano positivo e sustentou a economia do País. Mais do que isso, essa pujança aponta para um ano de 2021 bastante promissor.

A estabilidade do setor em 2020 se deve, em parte, ao fato de haver um aumento da demanda por alimentos básicos, em função das pessoas passarem mais tempo em casa, devido ao necessário isolamento social, aliado a um considerável aumento no preço das commodities, incrementando a renda do produtor, principalmente o exportador, impulsionado pela valorização do dólar.

Estudos realizados pelo Rabobank apontaram em outubro uma revisão positiva das margens esperadas para a safra 2019/20 da soja e do milho, em relação àquelas previstas no início do ano. De 2% e 10% abaixo da média dos últimos 10 anos, pularam para 7% e 20%, respectivamente, acima da mesma média. Para a safra 2020/21, as expectativas são ainda melhores, com projeção de margem sobre o custo direto para a soja e o milho ao redor dos 50% — bem próximos aos maiores valores vistos nos últimos 10 anos.

De maneira geral, a expectativa para 2021 é positiva, com ampliação de área plantada e crescimento do PIB do setor em razão do aumento dos preços das commodities (soja, milho, café, algodão, etc.). “Há preocupação relevante com as perdas trazidas pelas secas e atraso no plantio, mas acredita-se que serão compensadas pelo aumento de área e do preço, trazendo mais crescimento do que perdas”, opina a engenheira agrônoma Maria Tais Buzzo Gomes, especialista em fertilizantes e nutrição de plantas, da MTB Consultoria.

A soja foi a grande estrela do agronegócio brasileiro em 2020, pois a safra 2019/2020 recolocou o Brasil na posição de maior produtor mundial, o que deve ser mantido neste ano.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em conjunto com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estima para 2021 um crescimento de 0,4%, puxado principalmente por uma expectativa de novas safras recordes de soja (4,6%) e milho (2,0%), para o valor adicionado da lavoura. Para a pecuária, a expectativa é de crescimento de 4,4%, com contribuição positiva de todos os segmentos – bovinos, frango, suínos, leite e ovos –, liderados pela produção de carne bovina (5,5%), que deve crescer neste ano, revertendo a queda observada em 2020.

Fertilizantes

A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) projetou crescimento de 3,5% para o mercado de fertilizantes ainda em 2020. Mais que isso, a entidade entende que a relação de troca positiva entre grãos e fertilizantes antecipou os negócios para a Safra 2021/2022.

O presidente da Anda, Eduardo Monteiro, acredita que as entregas de fertilizantes no mercado brasileiro tenham passado de 36,2 milhões em 2019 para 37,5 milhões em 2020. Segundo ele, o ano passou por constantes revisões “para cima” das projeções e os principais fatores para isso são os cenários favoráveis para commodities e custos logísticos, além de aumento da área plantada e da tecnologia.

Eduardo Monteiro cita o caso do Mato Grosso, que já está com 87% do fertilizante da safrinha comercializado, ante uma média de 55% no mesmo período do ano passado. Para a próxima safra, o mercado já comercializou cerca de 17% do fertilizante a ser utilizado, sendo que em 2019 este número era de cerca de 2%.

Quanto aos preços, o que se observa no mercado doméstico é sua manutenção em um patamar elevado. Esse comportamento é decorrente, em grande parte, da desvalorização do real diante do dólar, que vem pressionando os custos de produção agropecuária como um todo no país.

Por sua vez, Maria Tais Buzzo Gomes salienta ainda que, em função das adversidades climáticas que vêm sendo enfrentadas desde o início do plantio da safra, abre-se espaço para utilização de produtos com tecnologias que melhoram o desenvolvimento inicial das culturas. “Esses produtos promovem maior enraizamento e tolerância aos veranicos e apresentam-se como excelentes ferramentas de manejo, em função do clima instável”.

De qualquer forma, num cenário tão complexo para o setor produtivo como o gerado por uma pandemia, as perspectivas positivas lembram a dinâmica tão conhecida do produtor rural, que a cada ano observa, ao longo das safras, suas esperanças renascerem, crescerem e se multiplicarem no campo.

Grupo Multitécnica

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