A mão de obra nos diversos setores que compõem o agronegócio passou por uma grande transformação a partir da evolução e tecnificação dos sistemas produtivos ocorridos nos últimos anos. Antes considerado braçal e pesado, este trabalho, cada vez mais focado na eficiência de processos, continua a exigir força, sim, mas agora intelectual e estratégica. Este novo cenário tem refletido diretamente no expressivo aumento da participação feminina nos negócios relacionados ao campo.

Segundo dados da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW) da Organização das Nações Unidas (ONU), 43% dos mais de 1,3 bilhão de pequenos agricultores do mundo todo, são mulheres. No Brasil, quase um milhão delas comandam propriedades rurais, segundo o Censo Agropecuário 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esta nova realidade foi tema de um levantamento realizado em 2018 pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP. Nele foram avaliadas as presenças da mulher nos diversos elos que compõem o setor: agroindústria, transporte, varejo e outras áreas correlatas. Os dados levantados indicam que, entre 2004 e 2015, o número de mulheres no agronegócio aumentou em 8,3%.

Esse aumento é mais significativo quando é avaliada a participação das trabalhadoras com ensino superior: de 7,6% foi para 15%, no mesmo período. Aquelas com ensino médio, que eram 31% do total, passaram a 42%. Em contrapartida, as vagas ocupadas pelas mulheres dotadas apenas de ensino fundamental caíram — de 50,6% para 37,3%. Ou seja: a maioria das mulheres está em cargos que exigem escolaridade alta.

Essa maior qualificação implicou, também, em amadurecimento da participação feminina no agro, com aumento do contingente de mulheres casadas e com mais de 30 anos de idade.

 

Mais e melhores

Pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) aponta que a maioria das empreendedoras do setor está em postos de liderança. O estudo mostra que 59,2% das mulheres na área são proprietárias ou sócias; 30,5% fazem parte da diretoria, são gerentes, administradoras ou coordenadoras; e apenas 10,4% são funcionárias ou colaboradoras. Além disso, 57% dessas mulheres participam ativamente de sindicatos e associações rurais.

Ou seja: o perfil da mulher que atua no agronegócio brasileiro é de escolaridade alta e independência financeira. Tanto que 55% acessam a internet todos os dias, 60% têm curso superior completo e 88% se consideram independentes financeiramente, segundo o mesmo levantamento realizado pela Abag.

Isso significa que a mulher tem deixado para trás o conceito de “sexo frágil” e tomado frente de diversas vertentes dentro do agronegócio, seja em empresas, indústrias, laboratórios ou em suas próprias fazendas e seus próprios negócios. Afinal, a mulher possui atributos que a colocam em destaque para funções que demandam visão detalhista, atenção e organização.

A especialista em commodities agrícolas Andrea Cordeiro observa que, como em outras áreas, também no agro a mulher trabalha em várias frentes de forma simultânea e tem grande capacidade de comunicação. Ela, que é mentora e coautora do livro “Mulheres do Agro”, afirma que a mulher também tem um olhar macro sobre os setores. “São potenciais para que trabalhe no agro para fortalecê-lo”, avalia Andrea. Em novembro último, ela foi moderadora do painel “Mulheres do Agro: Tecnologia, Inovações e Sororidade”, realizado como parte do evento AgroBIT Brasil Evolution 2021, que contou com a presença de diversas outras expoentes femininas do agronegócio.

Esse crescimento expressivo é, também, consequência das demandas crescentes da sociedade e dos investidores. Afinal, no agronegócio, segmento tradicionalmente comandado por homens, as barreiras vêm sendo transpostas também pela adoção, por parte das corporações, do atendimento ao ESG — sigla em inglês para aspectos ambientais, sociais e de governança. O aprimoramento da política de diversidade de gênero atende ao pilar social do ESG e se soma a outras iniciativas das empresas em termos ambientais e de estrutura de governança corporativa.

 

Multimulheres

Como é de costume nas indústrias, notadamente as de fertilizantes e produtos agropecuários, a área fabril do Grupo Multitécnica sempre foi ocupada predominantemente pelo gênero masculino. No entanto, aos poucos a participação feminina foi sendo ampliada com o surgimento de cada vez mais mulheres com perfis compatíveis com as vagas. Isso ocorreu de maneira natural, apenas com o incentivo do superintendente Daniel Dayrell.

Esse movimento natural, sem que políticas específicas para isso fossem implantadas, não passou despercebido pelo setor de Recursos Humanos. “Houve um despertar na percepção do próprio setor de RH sobre a importância de não limitar as vagas aos homens”, conta a analista de RH Lidiane Silva. A maior participação feminina também chamou a atenção da desenhista projetista Fernanda Rocha, do setor de projetos e construção civil, que, num projeto de reforma na fábrica, acrescentou a ampliação e reforma dos banheiros femininos.

No final de 2021 a empresa fazia sua primeira contratação de uma mulher para ser operadora de empilhadeira, aquisição que foi sendo replicada nos setores de manutenção industrial, transportes e produção foliar. O resultado é que, se em dezembro de 2020 havia 51 mulheres nos diversos setores da empresa, neste 8 de março a Multitécnica já contabiliza 96 colaboradoras, sendo 37 delas no ambiente fabril — antes identificado como “masculino”.

 

Marketing e Comunicação | Grupo Multitécnica

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