Na produção animal, seja na criação de bovinos, suínos ou aves, a manutenção da atividade sempre depende da eficiência do sistema, que pode ser conquistada pela maior produtividade com o menor custo possível.
Dentre esses sistemas produtivos, vários fatores devem ser considerados para obter sucesso, como a sanidade, o bem-estar e a nutrição animal, no entanto, este último é considerado o mais significativo. Sabe-se que a nutrição dos animais representa, em média, 70% dos custos dentro do sistema produtivo, portanto, quanto mais eficiente for esse processo, mais eficiente será a produção.
O milho é um dos principais ingredientes em rações animais, porém, em decorrência das constantes altas, agregadas à escassez dos estoques públicos nas regiões mais consumidoras, ele é uma constante preocupação para os produtores brasileiros.
Considerando, ainda, o recorrente aumento do farelo de soja (também muito utilizado), os produtores precisam buscar formas alternativas para reduzir o custo de produção, mas ainda oferecendo uma nutrição eficiente e economicamente viável.
Hoje em dia, a busca por formas alternativas de alimentos (na busca da diminuição dos custos da alimentação) não é mais uma simples opção, tornando-se quase que uma necessidade. Dessa forma, produtores então em busca constante por ingredientes alternativos para formular rações ainda eficientes, mas que sejam economicamente viáveis.
Apresentamos, a seguir, as principais formas de alimentos alternativos para a formulação de rações para bovinos, suínos e aves.
Fontes alternativas: Alimentação de Bovinos
Ano após ano, a pecuária de corte brasileira sofre com problemas decorrentes da seca. Na grande maioria dos casos ela, é realizada de forma extensiva, e os prejuízos causados pela falta de pasto são uma preocupação constante de pecuaristas que observam seu gado diminuir em ganho de peso/dia, culminando em perda de eficiência produtiva. Assim, é essencial que o pecuarista sempre pondere algumas alternativas para complementar a dieta do gado na ausência do pasto. Os subprodutos da agroindústria são ótimas opções. Veja algumas:
#1 Bagaço de cana hidrolizável
Este é o principal resíduo da indústria da cana, sendo obtido na saída do último moinho da usina açucareira. Para estabilizar o consumo do bagaço, é necessária uma adaptação de 4 semanas, adotando, para isso, um outro tipo de volumoso. Seu uso é viável economicamente em confinamentos próximos às usinas de álcool.
#2 Melaço de cana
É outro subproduto da fabricação ou da refinaria do açúcar da cana. O melaço é um liquido escuro, de odor característico e agradável. O gado costuma aceitar muito bem o melaço, por isso, muitas vezes, ele é utilizado para melhorar a aceitabilidade de alimentos grosseiros e não palatáveis.
Para bovinos em engorda, o limite recomendado por cabeça é de 6,0 Kg por dia sendo que a administração deve ser feita em pequenas quantidades crescentes.
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Polpa cítrica peletizada
A polpa cítrica tem grande produção nacional, e que está disponível entre maio e janeiro, época de entressafra de grãos. Ela é o subproduto da fabricação de suco concentrado pela indústria citrícola, sendo constituída por cascas, sementes, bagaço e frutas descartadas, e tendo a laranja como principal matéria-prima.
Alimento energético que possui características diferenciadas quanto à fermentação ruminal, a polpa se caracteriza como um produto intermediário entre volumosos e concentradas. Além disso, é uma boa fonte de fibra digestível (pectina) e energia.
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Resíduos de milho
O resíduo da industrialização do milho verde para conserva é composto por sabugos, palhas, pontas de espigas e espigas refugadas. Há, também, o farelo de glúten de milho 60 e 22. Tais resíduos decorrentes do beneficiamento de milho são considerados interessantes alternativas ao volumoso para bovinos, principalmente nas propriedades próximas às indústrias beneficiadoras deste grão.
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Resíduos de soja
Nos processos utilizados para extração dos produtos dos grãos descascados, resta um resíduo composto pela casca e pelos fragmentos de soja. O farelo constituído apresenta, em media, 17% de proteína e 29% de fibra bruta, não sendo favorecido nutricionalmente.
Os resíduos do grão possuem baixo teor de lignina (2%), são relativamente altos em energia (77% de NDT). Podendo chegar a 80% do valor energético do milho, são uma boa fonte de fibra digestível (pectina) com ate 90% de digestibilidade e classificados como produto intermediário entre concentrado e volumoso, semelhante com o que ocorre com a polpa cítrica.
Sua inclusão pode ser de até 20% da ração para bovinos de corte, e os resíduos de soja podem substituir alimentos ricos em amido.
Fontes alternativas: Alimentação de Suínos
Geralmente, as alternativas de alimentação de suínos disponíveis para uso direto em granjas são restringidas aos macro ingredientes de origem vegetal. Dividiremos essas fontes seguindo a necessidade dos animais por alimentos energéticos, além de fornecedores de energia com níveis de proteína mais elevados e fornecedores de proteína.
#1 Fontes energéticas idênticas ao milho
O Sorgo é o segundo cereal de maior importância na alimentação de suínos (atrás do milho) e pode ser uma boa opção. Além dele, milheto, grão de arroz e arroz na forma de quirera são outras ótimas escolhas, e apresentam a possibilidade de promover a substituição total do milho, causando apenas pequenos ajustes na porcentagem dos demais ingredientes da ração.
A silagem de grão de milho úmido também pode ser uma opção, pois reduz em até 28 dias o tempo de ocupação da lavoura.
#2 Fontes alternativas de energia com nível de proteína mais elevado do que o milho
Farelo de arroz integral, semente de girassol e soja integral inativada são ingredientes que apresentam elevado teor de extrato etéreo e, por esse motivo, maior densidade energética, sendo ótimos substitutos do milho. Eles são recomendados quando se pretende substituir entre 75 a 100% da proteína fornecida pelo farelo de soja em dietas para matrizes em lactação.
A soja devidamente processada pode ser incluída em até 20% nas dietas equilibradas pré-iniciais e iniciais para os leitões. A inclusão do farelo de arroz integral em rações para suínos em crescimento e terminação deve ser restringida até um máximo de 30% da dieta, devido ao o elevado teor de gordura insaturada que afeta a qualidade da gordura na carcaça.
#3 Formas alternativas de fornecimento de proteína
Como oferta alternativa de proteína, os farelos de algodão, de desengordurado de arroz e de girassol, além das sementes de leguminosas (em especial o guandú), são ótimas alternativas. Eles podem ser inclusos em dietas de suínos em crescimento e terminação e em fêmeas gestantes, substituindo entre 50 a 75% da proteína oriunda do farelo de soja.
#4 Alternativas de fontes de proteína com baixa energia
Feno de leucena e da folha de mandioca podem substituir parcialmente o já tradicional farelo de soja. Esses são ingredientes preferenciais para serem incluídos na dieta em proporção definida (com proporção máxima de 10%) de fêmeas em processo de gestação, visto que apresentam elevado teor de fibra bruta com baixa densidade energética.
Fontes alternativas: Alimentação de aves
Tradicionalmente, as rações para frangos no Brasil utilizam principalmente milho e farelo de soja, com uma parcela de até 70% destes produtos na sua formulação. Dentre as alternativas mais viáveis economicamente para substituição, encontram-se:
#1 Trigo e Triticale
Tanto o trigo quanto o triticale são cereais de inverno colhidos no final do ano, justamente na entressafra do milho, portanto, os avicultores devem redobrar a atenção em seus preços. Historicamente, o trigo sempre foi destinado ao consumo humano e os subprodutos do seu processamento, corriqueiramente, direcionados à alimentação animal – principalmente, o farelo de trigo. Para as aves, o trigo possui 10% menos energia do que o milho, mas tem maior percentual de proteína, sendo uma ótima alternativa para substituí-lo em, aproximadamente, 20% na dieta.
O triticale é um grão produzido com o destino principal para a produção de rações. Este ingrediente entrará na substituição parcial do milho na alimentação das aves, visto que não tem tanta energia, em proporções de até 75%.
Em geral, o preço limite para compra do trigo e do triticale para uso em rações de frangos não deve ser superior a 90-95% do preço do milho, caso contrário, a substituição não valerá a pena.
#2 Sorgo
O sorgo é um cereal semelhante ao milho, porém, sua disponibilidade comercial não é muito alta. Mesmo assim é uma boa alternativa, pois apresenta excelente possibilidade de uso na alimentação de aves, desde que sejam incluídos ingredientes com pigmentos carotenóides ou xantofilicos, já que o sorgo diminui a pigmentação da pele. Algumas variedades podem conter alta quantidade de tanino, o qual é indesejável para rações.
O sorgo, quando comparado com o milho, tende a ter menos energia metabolizável, mas, mesmo assim, pode ser vantajoso na substituição parcial do milho, desde que seu preço não seja superior nem menor do que 90% deste.
#3 Farinhas não aviárias e mandioca
Farinhas animais de outras espécies não aviárias, devidamente processadas e de boa qualidade (nutricional e sanitária), podem ser boas alternativas proteicas e fosfóricas, que objetivam diminuir o custo da dieta. Nestes casos, análises devem ser sempre solicitadas, visando a garantia de qualidade do ingrediente (negativo para salmonela, putrefação, sem rancificação, digestibilidade, entre outras causas de problemas).
Por fim, há a opção de utilizar a mandioca, que é um alimento energético que substitui, em parte, o milho.
A busca por alimentos alternativos é uma tática bastante válida para o atual contexto dos sistemas produtivos no Brasil, pois, assim, o custo da ração tende a diminuir. Porém, não pense somente em baixar custos. É essencial considerar a qualidade destes ingredientes – isso porque, caso a alimentação não atenda às necessidades dos animais e suas categorias, a produção não trará os resultados que sempre se espera.
Gostou do artigo? Se você ficou com alguma dúvida sobre alimentos alternativos para que o seu animal continue gerando produtividade e lucratividade, escreva pra gente pelos comentários e até a próxima.
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