Qualquer guerra é sempre um evento lamentável, capaz de produzir catástrofes humanitárias irremediáveis. Mas, num mundo globalizado como o atual, acarreta, também, prejuízos econômicos internacionais difíceis de mensurar. O conflito entre Rússia e Ucrânia, no leste europeu, atinge direta e indiretamente nações do mundo inteiro — e o Brasil não fica fora dessa equação.

A fim de evitar intervenções militares, o que poderia levar a uma guerra generalizada com precedentes apenas nas duas guerras mundiais, os países do ocidente têm optado por reagir à invasão russa por meio de sanções comerciais àquele país. O objetivo é isolar a Rússia economicamente e fazê-la cessar os ataques para tentar resolver o conflito por meio da diplomacia.

Com isso, a crise deve atingir notadamente o setor do agronegócio brasileiro e, em particular, o mercado de fertilizantes, uma vez que o Brasil importa 85% da matéria-prima que utiliza na sua produção – no caso do potássio, esse índice sobe para 95%, sendo que a Rússia e a Bielorússia (aliada russa na guerra) são dois dos principais fornecedores do país.

Os insumos, especialmente nitrogênio, fósforo e potássio, são largamente usados pelo setor agrícola, sendo considerados essenciais para fornecimento de um ou mais nutrientes para as plantações. Embora o País tenha reservas para até agosto pelo menos, segundo levantamento feito pelo Ministério da Agricultura, a interrupção dessas importações poderia impactar negativamente não só a economia nacional, mas a própria segurança alimentar da população.

Em relação ao comércio externo, o fluxo de mercadorias entre Brasil e Ucrânia é pequeno. Segundo relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado no último dia 14, as principais dificuldades deverão ser observadas nas trocas comerciais entre Brasil e Rússia. No ano passado, o Brasil comprou US$ 5,7 bilhões em produtos russos, principalmente fertilizantes, óleos leves de petróleo, carvão mineral e itens de metalurgia.

O eventual prolongamento da guerra entre Rússia e Ucrânia pode impactar negativamente a saúde financeira da indústria brasileira, segundo o relatório da CNI, pelo qual o setor já está sendo afetado pelo encarecimento das commodities (bens primários com cotação internacional).

Não é só. A alta internacional dos preços de matérias-primas agrícolas, minerais e energéticas aumenta a pressão sobre a inflação, já afetada pela pandemia de Covid-19. Para a CNI, a alta da inflação poderá resultar em aumentos adicionais nos juros, no Brasil e no exterior, fazendo a economia global desacelerar.

No caso do petróleo, a alta não afeta apenas os preços dos combustíveis, mas também produtos petroquímicos, como plásticos e embalagens. Outro impacto sobre a indústria será a escassez de componentes para fabricação de chips e semicondutores. Isso porque Rússia e Ucrânia são grandes produtores globais de metais usados nesses produtos.

 

Na FAO

O governo brasileiro vai tentar pautar na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) a transformação dos fertilizantes em itens essenciais da segurança alimentar global. Nesse sentido, na terça-feira (15) a ministra da Agricultura deveria realizar uma reunião virtual com o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu. O diretor do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, e a enviada especial do secretário-geral para os Sistemas Alimentares, Agnes Kalibata, também deveriam participar da conversa.

“Você não faz comida se não tiver fertilizantes. Então, nós temos essa discussão com todos os países da América do Norte e América Latina, para discutirmos e levarmos isso, se for consenso, para ser levado à ONU”, afirmou Tereza Cristina, que também preside a Junta Interamericana de Agricultura.

A ministra convidou os integrantes do Conselho Agropecuário do Sul (CAS) para que participem da reunião virtual. “Acredito que nossa região deva tomar a iniciativa e capitanear o debate sobre esses temas, a fim de que possamos explorar cursos de ação e soluções conjuntas para minimizar os riscos para o abastecimento global”, disse. Tereza Cristina deixará o comando do ministério no fim deste mês para se candidatar ao Senado pelo Mato Grosso do Sul.

CRISE X OPORTUNIDADE

Em economia, é da necessidade que surgem as soluções — ou, em outras palavras, das crises advêm as oportunidades. Isso significa que, ao buscar alternativas para a importação, o Brasil pode identificar novos parceiros comerciais (até mais interessantes que a Rússia) ou, mesmo, desenvolver localmente a produção de matérias-primas para produção de fertilizantes. Por isso, desde o último dia 12 a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, está em missão comercial no Canadá.

Segundo a ministra, a ideia é conversar com a iniciativa privada sobre a disposição do governo brasileiro de facilitar as vendas ao Brasil. Na viagem a Ottawa estão previstas reuniões com presidentes de empresas produtoras e exportadoras de potássio instaladas no País, além de representantes do governo canadense.

O primeiro resultado positivo da viagem foi anunciado no dia 14, com a abertura do mercado canadense para as exportações de carne bovina e suína produzidas no Brasil. “Ótima notícia para o nosso #agro. O Canadá, um dos mais importantes mercados do mundo”, anunciou a ministra pelo Twitter. Ela ainda faria uma série de reuniões para tratar da importação de fertilizantes pelo Brasil.

Em fevereiro, a ministra viajou ao Irã para negociar o aumento de exportações de fertilizantes para o Brasil. Depois, recebeu em Brasília representantes de países árabes para debater a possibilidade de aumentar a exportação de insumos para a agropecuária nacional.

Antes de viajar, a ministra, o presidente Jair Bolsonaro e diversos ministros participaram do lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, idealizado com a proposta de desenvolver ações para que o País diminua a dependência externa na compra desses produtos até 2050.

O Brasil consome 8% de toda a produção mundial de fertilizantes, avaliada em 55 milhões de toneladas. Segundo a ministra, apesar disso, o País importa 85% do insumo usado pelo agronegócio, principalmente da Rússia. A expectativa do plano é reduzir tal dependência para 45%.

 

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