Conab e IBGE reveem para baixo as previsões a cada nova estimativa; carro-chefe da produção nacional, soja é a principal responsável pela queda


A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vem reduzindo sucessivamente — para baixo — suas estimativas para a produção nacional de grãos na safra 2023/24. A quinta e mais recente projeção, apresentada no início de fevereiro, estimava a produção brasileira como um todo em 299,8 milhões de toneladas, 6,6 milhões a menos que o previsto em janeiro. O volume é 6,3% inferior ao calculado para o ciclo 2022/23, quando foram colhidas 319,8 milhões de toneladas.

Os principais motivos apontados para essa queda são as chuvas irregulares, alternadas com longos períodos de forte calor, que prejudicaram lavouras de soja do Centro-Oeste nas fases de plantio e desenvolvimento. Esse cenário também acaba por causar reflexos sobre a safra de verão de milho. “As condições climáticas instáveis, com chuvas escassas e mal distribuídas aliadas a altas temperaturas na região central do País, além de precipitações volumosas na região Sul, provocaram e ainda persistem no atraso do plantio da safra de verão, além de influenciarem de maneira negativa no potencial produtivo das lavouras”, explicou a Conab.

A queda chega a 17,7 milhões de toneladas, na comparação com as previsões iniciais. Segundo a Conab, as maiores perdas são observadas nos plantios de soja precoce e nas áreas dos primeiros plantios, realizados entre setembro e meados de outubro.

Os mesmos números variam um pouco segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também reviu para baixo suas estimativas para a safra de grãos do País e estipulou que a colheita total deverá chegar a 303,4 milhões de toneladas, 3,8% abaixo do volume de 2023. A área a ser colhida está projetada em 77,6 milhões de hectares, um decréscimo de 222,6 mil hectares frente à área colhida em 2023, o equivalente a 0,3% de declínio.

As explicações são as mesmas: as questões climáticas. “Em 2023, houve excesso de chuvas no Rio Grande do Sul, atrasando o plantio dessa nova safra; e períodos de seca com temperaturas elevadas nas regiões Norte e Centro-Oeste. Esses efeitos climáticos estão gerando queda nas estimativas nessas regiões e estados. A cultura mais afetada foi a soja”, disse em nota o gerente da pesquisa, Carlos Barradas.

 A situação por cultura


O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de soja e a oleaginosa “puxa” os números da produção de grãos no País. As novas previsões da Conab apontam uma produção de 149,4 milhões de toneladas em 2023/24, quase 6 milhões a menos que o estimado em janeiro. O volume 3,4% menor que o colhido no ciclo passado. A estimativa para o milho foi corrigida para 113,7 milhões de toneladas (a anterior era de 117,6 milhões. A safra de verão foi recalculada para 88,1 milhões de toneladas — o relatório anterior apontava 91,2 milhões. Na temporada passada, foram 102,4 milhões.

O arroz teve suas lavouras atingidas inicialmente, mas não deve apresentar perdas para esta safra. A Conab prevê a colheita brasileira em 10,8 milhões de toneladas (7,6% a mais que o ciclo anterior). O feijão, que tem três safras anuais, deverá atingir 3 milhões de toneladas (2,1% a menos que no período anterior). A única cultura para a qual está previsto recorde positivo é a do algodão, que deve atingir 3 milhões de toneladas (em plumas), ou seja, acréscimo de 3,6% em relação ao prognóstico anterior. A cultura já havia apresentado recorde em 2023, o que animou os produtores a ampliar a área plantada.

Com a colheita encerrada, o trigo registrou produção de 8,1 milhões de toneladas. Segundo a Conab, inicialmente havia perspectivas de uma safra recorde semelhante à de 2022. Mas, a partir de setembro, quando se iniciou um período com chuvas excessivas que persistiu até a colheita, houve perdas na produtividade.

Já o IBGE calcula para a soja 150,4 milhões de toneladas; para o milho, 117,7 milhões (somadas as produções de verão e de inverno); e para o arroz, 10,4 milhões de toneladas. O gerente da pesquisa do IBGE, Carlos Barradas, lembra que os preços do milho já estão bastante defasados, com uma rentabilidade muito baixa. “Os preços da soja também vêm caindo. Já o arroz, por outro lado, pela primeira vez, nos últimos anos, teve um aumento de 3,1% na área plantada. Como o preço está bom, os produtores ampliaram a área de plantio”, avaliou.

“Com a redução da produção do milho de segunda safra, em função da baixa rentabilidade dos preços, os produtores preferiram apostar mais no algodão, que apresentou alta de 9,4% na produção e de 8,5% em área plantada”, observou Barradas.

Para o café, considerando as duas espécies (arábica e canéfora), a estimativa é de uma produção de 3,5 milhões de toneladas, ou 59,1 milhões de sacas de 60 kg, um acréscimo de 3,7% em relação a 2023.

Algumas consultorias privadas, no entanto, são menos otimistas que os órgãos estatais. A Pátria Agronegócios, por exemplo, prevê uma produção de 143,18 milhões de toneladas de soja e a Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), menos ainda: 135 milhões de toneladas. A entidade, inclusive, criticou as projeções muito acima desse patamar, afirmando que “não condizem com a realidade” e, ainda, que “têm provocado uma tendência de baixa nos preços”.

 

O papel da safra de verão


William Ruffato

 

O engenheiro agrônomo William B. Rufatto, gerente regional da Multitécnica para os Estados de Mato Grosso e Rondônia, lembra que os fertilizantes são muito importantes para ajudar o produtor a enfrentar os efeitos produzidos pelos estresses climáticos. “Toda planta, quando está bem nutrida, de maneira equilibrada, consegue suportar os estresses climáticos com menos perdas, por meio de seus próprios mecanismos de defesa e sobrevivência, que são acionados nestes momentos. Estes, na sua maioria, são dependentes de nutrientes que podem ser primordiais para uma melhor regulação osmótica, bem como influenciadores para um melhor enraizamento, o que permite explorar maior quantidade de solo e suportar melhor a deficiência hídrica.”

Rufatto salienta que é possível amenizar as perdas financeiras da safra principal com a safra de verão. Para isso, considera a verticalização de produção uma excelente alternativa. “Um bom manejo de solo, com uso de corretivos, adubação adequada, manejo fitossanitário, aliados ao uso de bioestimulantes, suplementação de fertilizantes minerais com micronutrientes  e uso de indutores de resistência, podem maximizar o potencial genético da cultura em segunda safra, promovendo uma colheita em maior quantidade”, diz Rufatto. “Isso minimiza custos fixos e pode, então, ajudar a minimizar a perda financeira da safra principal”, completa. Ele lembra, ainda, que o produtor deve sempre procurar um especialista habilitado para que sejam obtidas as melhores orientações para a implementação e condução da lavoura.

Rolar para cima